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terça-feira, 29 de junho de 2010

Tempos de glória

Sento em minha cadeira, olho para a tela do PC e simplesmente não consigo mais escrever. É realmente possível desaprender? Talvez nunca tenha sabido nada de nada. O certo e o errado, o bonito e o feio, o velho e novo, o forte e o fraco, tudo parece estar misturado. O que é verdade pra uns, para outros não é. Vivemos em uma independência dependente.
Somos monitorados constantemente, sob uma liberdade vigiada. Tudo fica registrado, quando entramos e saímos de estabelecimentos comerciais, em escolas, lojas de conveniência, elevadores, quando andamos pelo centro da cidade, em shoppings ou condomínios fechados. A necessidade de segurança explica, em parte, o motivo dessa vigília, porém a destinação e o tratamento dado às imagens coletadas nem sempre são revelados e não sabemos onde podem estar instaladas câmeras escondidas. Paranóia? Pode ser que sim, pode ser que não.
Os celulares atuais são capazes de gravar com grande qualidade qualquer momento oportuno ou inoportuno. Em muitas vezes, vídeos que mostram a intimidade alheia ou mesmo as cacetadas cotidianas aparecem no You Tube, sem consulta prévia aos protagonistas. Paralelamente, há quem queira aparecer demais e quem prefira manter-se no anonimato (o que se torna, a cada dia, mais difícil).
As três redes sociais mais disseminadas no Brasil hoje são o Orkut, o Facebook e o Twitter. O propósito básico delas é aproximar pessoas que possuam interesses em comum ou que já tenham algum tipo de ligação, seja ela profissional ou pessoal. Antes, com um conteúdo de livre acesso a qualquer internauta, era possível visualizar recados, fotos e vídeos de todos os integrantes da rede. Hoje, o usuário controla e define o que poderá ser visto e quem poderá acessar dados referentes a sua vida particular.
Nunca faltou gente para tomar conta da nossa vida e espalhar boatos que correm o mundo com a velocidade de um foguete, mas agora, com todas as facilidades da era digital, os boatos parecem se espalhar na velocidade da luz. Acostumados, alguns se apegaram ao velho ditado: “Falem mal, mas falem de mim!”.
Acredito que se criou nos usuários destas redes uma necessidade, quase geral, de liberação de um grito que ficou entalado na garganta com tantas mudanças e informações globalizadas. Este grito representa, antes de tudo, a reafirmação da existência e relevância da presença de cada um neste contexto. É como se cada usuário dissesse: “Olha, eu estou aqui! Vivo, me divirto, fico triste, fico cansando, durmo, como, acordo, sou ser humano!”. E tudo isso também acabou virando objeto de curiosidade.
Onde estão os tempos de glória? Época em que nossa realidade não era tão escancarada? Onde os problemas locais já pareciam grandes demais e não tínhamos acesso a tantos desastres, assassinatos e doenças? Quando quem sabia de detalhes de nossas vidas eram apenas familiares e amigos? E já era muito!
Infelizmente, ou felizmente, como diz o criativo Gabriel, o Pensador: “...quando a gente muda o mundo muda com a gente, a gente muda o mundo na mudança da mente”. Muito dessa mudança depende dos outros e, mesmo discordando, temos que considerar o que os outros pensam para manter a harmonia em nossas relações. Adaptando-nos, é sempre assim que sobrevivemos e, de uma maneira ou de outra, lutamos pra estabelecer novos tempos em que a satisfação possa ser encontrada com mais facilidade.


Fernando Christófaro Salgado.

Um comentário:

  1. Fernando, meu amigo,

    creio que estamos numa situação onde cada um é testado à sua maneira. Os nervos são desafiados a todo momento, situações que não gostamos são mostrados. Situações essas que nos colocam na posição de alunos. percebe-se, meua migo, que somos testados naquilo que não gostamos. Significa que a vida está nos mostrando que, em qualquer situação, estamos prontos para encarar. O problema é que não queremos ser testados, queremos viver dentro de nós mesmos ou excessivamente fora, mas sempre escondendo o verdadeiro "eu". Nos casos de redes sociais, cultuam, cultivam o exterior, as fofocas, mesmo verdades escondidas que não gostamos, uma forma de integração na nossa realidade que é virtual, onde podemos ser realmente quem somos. Estamos protegidos pela tela.
    Não deixa de ser tempos de glória para os que vivem o externo, mas para aqueles que buscam a si mesmos, buscam a moral e a ética, é um campo mais estreito, tanto na real quanto na virtual. Mas existem setores positivos. Aí que gostamos de nos aconchegar, de nos aproximarmos com outras pessoas que pensam de uma forma similar como aqui na blogosfera.
    Mas pensando bem, os que estão plenos consigo mesmos, será que precisam do mundo virtual ou mesmo tecnologias de aproximação e alienação?

    Caro amigo, um grande abraço!!!

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