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quinta-feira, 13 de maio de 2010

O caçador de sorrisos

Ele era um homem pacato, de vestimentas simples e de poucos, mas importantíssimos afazeres. Acordava todos os dias bem cedo e com bastante fome. Era preciso recuperar as energias se alimentando. Porém, não comia pães, frutas ou biscoitos, nem tomava café ou leite. Durante o dia, também não ingeria nenhuma sorte de alimento.
Pode-se dizer que ele era um caçador muito diferente, um homem destinado a se alimentar apenas de uma coisa, sorrisos! Era preciso, desta forma, buscá-los nos diferentes rostos das pessoas com que ele se deparava no dia a dia e quanto mais sorrisos ele avistasse ou recebesse, melhor e mais disposto ele se sentiria. Era como se ele fosse uma espécie de medidor da felicidade alheia.
Uma das tarefas dele era andar e conhecer todas as partes das cidades que freqüentava, desde os lugares mais carentes até os mais sofisticados. Em todos os ambientes em que estivesse sua expectativa era a de se sentir bem, captando todas as irradiações positivas emitidas pelos lábios ou dentes de quem encontrasse pelo caminho. Sofria de indigestão com sorrisos amarelos e risadas sarcásticas, por outro lado quase flutuava de prazer quando via pessoas a gargalhar.
Em dias nublados ou de chuva só encontrava caras amarradas e se enfraquecia como uma planta sem água. Também não podia dirigir por muito tempo no trânsito caótico das grandes cidades, onde sob stress constante, não se via um sorriso estampado na cara de ninguém. Convocado para uma guerra, o caçador apresentou ao exército atestado médico para se ausentar, alegando que morreria apenas por desembarcar num campo de batalha (cenário nada propício a sorrisos).
Ver aquele homem cabisbaixo e enfraquecido era mau sinal. Significava que o ambiente estava pesado ou a maré não estava para peixe. Ao contrário, vê-lo alegre e saltitante era compensador, pois era a garantia de que as pessoas que estivessem naquele ambiente estavam pipocando sorrisos para todos os lados e o alto astral poderia ser sentido.
O caçador havia sumido por um longo período de tempo, muitos achavam que tivesse morrido, entretanto, há alguns anos, descobriu-se que ele está vivo, mas vem perdendo suas forças gradativamente.
Esforça-se para sair de casa mesmo em dias bonitos e ensolarados, mas é raro captar um sorriso sequer. Visita lugares direcionados para a alta sociedade e só vê pessoas sérias e sem expressão. Nos ônibus lotados só escuta reclamações, nas filas dos bancos sente a impaciência do povo, nos aumentos de preços e na cobrança excessiva de impostos percebe a indignação de todos, vê religiosos corruptos e inescrupulosos roubarem constantemente o dinheiro de humildes e ingênuos fiéis, assiste a políticos que nem de longe desempenham o papel que deveriam continuar a fazer o sempre fizeram. Tudo isso e outras coisas tão ou mais entristecedoras persistem sem que seja tomada nenhuma atitude para corrigir ou melhorar nada.
Por alguns instantes ele começou a se perguntar se as pessoas ainda têm motivo para sorrir, por que se não tiverem será, de fato, o momento de seu fim. Mas, rapidamente, se lembrou de visitar o seu refúgio predileto, um jardim de infância. Lá as preocupações e o stress ainda não fazem parte da realidade e as risadas inocentes talvez representem uma esperança para um futuro mais alegre, onde não seja mais necessário procurar sorrisos para se viver melhor, eles estarão soltos pelo ar.


Fernando Christófaro Salgado.

2 comentários:

  1. Caro amigo.

    Penso que o caçador de sorrisos
    mais que um texto poético,
    é um tributo a esperança.
    Quem dera que acordássemos pela manhã,
    com este objetivo, e em uma época tão cinzenta,
    pudessemos espalhar
    os sorrisos encontrados pelo mundo.

    Uma linda semana para ti.

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  2. Olá Fernando
    Grata por tua visita.
    Quer dizer que trago algo de bom na tua lembrança?
    Que sorte a tua! Eu só conheci uma de minhas avós quando já era moça, e mesmo assim só a vi umas 3 ou 4 vezes.
    Agora me conta, quem é o caçador de sorrisos?
    Esse texto é lindissimo.
    Um abraço

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